Duda Bandit vê paisagens...
O sol queria fazer sentido, nuvens indecisas pairavam no horizonte, senti gotículas de chuva em meio aos raios da manhã. O ruído da motocicleta embalava minhas reflexões sobre as distrações de nossas almas corroídas pela dúvida... felicidade é distração, cansei de repetir.
Uma partida que não joguei, teimei em dizer a verdade e paguei um preço salgado à prestação... bem feito pra mim... é tudo tão simples quando sou jogador, gargalho enquanto dou voltas e mais voltas no mesmo blefe... mas cansei, estou, digamos, sem paciência para sustentar personagens e tenho mandado à merda os cirquinhos da vida...
Sempre um verso de Ana C me assombrando, “no flanco do motor vinha um anjo encouraçado”... e resoluções: nada de compras à prazo; perdoei também todos que me deviam, eles não iam pagar mesmo, 18 anos depois eu me tornei o cristão que sonhei ser aos 12, compreendi o Cristo, por assim dizer... é uma religiosidade por eliminação que me resta, uma vez que perdi meu ódio e minha capacidade de amar não tem trazido muita coisa também, só a cruz.
Minha capacidade de amar... tenho falado de uma vida menos sórdida, nas entrelinhas, dos desenlaces e estranhamentos de um serzinho potencialmente apaixonado em sua quixotesca busca pela paz na cama e na vida. Tudo em vão.
(Um cachorro late longe, lembro de Jacimar, o cãozinho do décimo andar, vem a tristeza pela sua morte. Eu desejei a carrocinha para todos os de sua espécie até conhecê-lo. Jacimar me fez entender que os cães, assim como os homens, são únicos, e se diferem pela forma como amam, nada mais. Jacimar tinha o olhar existencialista, a paciência oriental. Sentava-se sereno na porta do elevador de serviço à espera de alguém que subisse e desse uma carona. Ficava ali até atingir o andar mais próximo do décimo. Jacimar parecia um homem carregando nos seus ombros o peso da condição humana, e penso que seu semblante ao ser atropelado foi esse, certamente teria recitado um poema apátrida de Kafavis.)
Assim, com essas e outras tristezas e frustrações, além de risos ocasionais, passo tardes à beira-mar sentado na motocicleta, tardes de píer, e acredito que a Bachiana Brasileira No.5 de Villa-Lobos é a trilha sonora de tudo aquilo que me cai nas mãos e depois escapa... desiderato.
Nunca é demais repetir, estou de saco cheio desse jogo, mas nada me resta senão jogar... sou obrigado, vendi a alma... aliás, apostei. Com cinco cartas na mão visto summer e tenho um charuto na boca... uma vez bandido, sempre bandido, julgamento sumário. Mais uma coisa: Se for para sofrer que seja ao menos com elegância.
19 Comments:
"felicidade é distração", como diria aquele escritor, o Bandit.
grande abraço, fera
Duda..
seus neurônios fumam cigarro de palha?...meu avô os fumava aos sete anos em baixo da grande mesa da cozinha da fazenda em que nasceu, continuo fumando-os até se apagar aos 93. Bem...acho que meus neurônios têm problema de pulmão, nem mesmo por "felicidade e distração" conseguem fumar um cigarro de palha, bjs
Quanto tempo! Insatisfação é um bom motor para a literatura. beijo
Gostei bastante, Saulo, e me identifiquei com muitas coisas tb. Valeu!
Bjos.
Sempre gosto da história do cãozinho!
Vc sumiu, hen?
Beijo, Cara!
também sou assombrada por versos de Ana C (por afrontamento do desejo, insisto na maldade de escrever).
será que querendo muito o sol conseguirá fazer sentido?
a sua foi uma das melhores definições de felicidade que encontrei até agora
beijo
Este comentário foi removido pelo autor.
Continuo me divertindo com os seus contrastes, o homem rude e doce.
Me pegastes com o som da motocicleta seguido da Bachiana Brasileira nº.5...
Abraço!
Muito bom, aliás...como sempre.
uma vez estava numa barco, não me lembro onde foi, acho que Natal, ou Fortaleza. estava num barco e vi uma espanhola. ela era bonita. parecia bem carnal. e estava com um norueguês... lembrei disso ao ler a dedicatória aí, daquela bonita garota espanhola.
"Pôxa. Tive vontade de ficar sentada à beira-mar só olhando..." Mas, outro dia alguém falou que quem fica sentado olhando o mar tá deprimido. Será?
para os que tem alma inquieta
se um dia deixar de ser
o mundo pára
é um sentido desesperado.
parabéns pelos contos, tem passagens realmente interessantes!
Abrá
Vicios
distração. iso mesmo, não extração!
ótimo texto!
eu ando permanentemente de saco cheio...a escrita ta estacionada...ta dando lugar a uma nao metodica "fase de estudos"..
abraco
Você passou pelo meu Orkut. Passei por aqui. Abraços.
Bem vindo novamente...
nos inspirando como sempre.
Beijos
Simone
"felicidade é distração"...sei bem.
Gostei dos textos que li.
Obrigada por lá ter passado.
Que bom que gostou dos textos, sinta-se convidado a aparecer no blog qdo quiser! POr aqui venho uma vez ou outra, a espera de novo texto, que ainda não veio! rs
Até ele, então! =)
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