vitória foi de navio

vitória não existe, é produto do inconsciente coletivo dos malucos da ilha anterior... e vamos vivendo, refazendo uma ilusão.

Mas vitória, perto de nua, camisetinha branca e uma calcinha enorme, desafiava todas as convenções do não existir... Eu, sempre cético, cartesiano, duvidando do sol ao meio-dia de verão, tentava acreditar nela... minhas mãos percorriam sua pele dourada, inca. vitória virava-se para mim, desafiadora:

Nunca me viu? (jogava o cabelo negro de lado, impiedosa)

Levantava e ia até a janela, abria as cortinas praquele mesmo sol de meio-dia, que cobria seu corpo como jamais sonhei cobrir... Eu acendia uma ponta, sugava entre os dedos o resto de erva... Deixa pra mim, deixa?...

(Eu deixava!)

Não, eu não acreditava...

É de se admirar que - não obstante uma inexistência quase óbvia - fodêssemos legal, atleticamente, eu e vitória.

(cachorra, queria sempre de quatro: ....os animais herdaram a melhor maneira de foder... quem sou eu pra ir contra a natureza?.... Era ela quem falava assim, e eu, olhos molhados de amor [...?], saía de um abraço protetor e belo para golpear sua bunda, preso a seus quadris como quem doma uma hidra; fugindo do hálito venenoso, eu, um Hércules filho de português, pensava em suas várias cabeças e múltiplos neurônios, um perigo, uma ameaça a meus preconceitos e trocadilhos.)

vitória, aquela mesma, vista das torres de TV, assombrada pelos Eguns de um cemitério profanado... um maciço central e vegetação por todos os lados... vitória também na janela, olhando o porto, camisetinha branca e uma calcinha enorme, querendo se mandar num navio daqueles, de preferência nos maiores, que vão pra mais longe... Um dia eu vou, suíno! (suspirava.) Um dia eu vou!

e foi... ou?

No fundo, no fundo, vitória é um lugar bacana pra gente sentir saudades... Eu confesso que sinto saudades de vitória, ela mandou dois e-mails, uma foto, vários palavrões....

...uma incerteza, um segredo e um mistério... Cadê vitória?

En passant, um lugar aprazível, delicado, fotogênico...

É uma ilha (uma ilha, porra!), isolada em seus significados, tão recolhidos que ninguém sabe ao certo sua acepção ou peso...

Um hermitão louco, lá na Pedra dos Olhos, sabia. Mas esqueceu porque ninguém mais perguntava.

E sempre, descendo comigo a rua Gama Rosa, a saudade de vitória, nostalgia de uma felicidade que a gente acredita que teve, mesmo que inventada...

ah, saudades, saudades de vitória, mesmo estando aqui... (?)...

vitória, por favor, acreditem... é uma ilha (!).

É uma ilha.